Arte suave na UFRN: disciplina e bem-estar do tatame para vida

Destinado a professores, funcionários e estudantes da UFRN, o projeto de extensão ensina Jiu-Jitsu para desenvolver atributos cognitivos, fisiológicos e psicossociais dos seus participantes.
Escrito por: Francisca Pires | Publicado em: 28 de junho de 2021

“Nós buscamos formar pessoas boas. Cidadãos atuantes que tenham equilíbrio e busquem melhorar seu entorno e a si mesmo.”  É assim que a professora da Escola de Ciências e Tecnologia, Edna Rangel, define o objetivo do projeto de extensão Brazilian Jiu-Jitsu: Arte suave na UFRN. O projeto é destinado a alunos, funcionários e professores da universidade.

A iniciativa é coordenada atualmente pela professora e conta com a participação dos professores faixa-preta Marcus Vinicius Lima e Éverton Rocha que, de forma absolutamente voluntária, ministram as aulas. O professor Marcus Vinicius, inclusive, é dono da academia Kimura House há 25 anos.  Edna conta que o projeto existe há mais de doze anos, porém, inicialmente, era feito de forma extra oficial. Com sua entrada na coordenação, o “Arte suave” tornou-se projeto de extensão, atraiu muito a atenção dos alunos da ECT e passou a funcionar toda terça e quinta das 16:30 às 18:30. 

“Existem pessoas que começaram no projeto quando ele ainda não era oficial e hoje são faixa preta”, conta orgulhosa a professora. Para participar não é preciso pagar  mensalidade, nem taxa de inscrição, tudo é feito pela mobilização dos coordenadores. Edna Rangel conta que já treina jiu-jitsu há seis anos. Começou treinando na Kimura House, onde o professor Marcus Vinícius é proprietário, e posteriormente passou a treinar no projeto com o público da UFRN.

Professora Edna Rangel e seu antigo treinador Lucas Dantas
(Fonte: Arquivo pessoal)

O “Arte suave” já esteve presente na Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (CIENTEC) cinco vezes. Tudo sempre planejado e executado pelos próprios membros do projeto. “O projeto foi criado e é mantido, diretamente, com o esforço voluntário e generoso dos dois professores Marcus e Éverton”, evidencia a professora Edna Rangel. 

Sobre o Jiu-Jitsu 

Segundo a coordenadora do projeto, o jiu-jitsu é uma luta marcial que prepara tanto a parte física do corpo quanto a parte comportamental e emocional. “A sua vida fora do tatame não é independente da sua vida no tatame”, afirma Edna. O esporte torna-se um estilo de vida, preparando a mente e o emocional de quem o pratica. 

Sobre as vantagens do esporte, a professora destaca que os alunos aprendem a ter um respeito pelo tatame, pelos irmãos do tatame, pelo kimono que se veste e pela faixa. Para avançar de posição, ou seja, mudar de faixa, Edna conta que é avaliado o comportamento, participação, evolução técnica e física dos alunos. “O jiu-jitsu é um estilo de vida que melhora não só seu corpo, mas também sua alma, seu espírito, seu emocional. Você se sente pronto para as lutas da vida”, declara a professora Edna. A melhora no comportamento das pessoas é perceptível. Se o indivíduo é uma pessoa violenta, por exemplo, aos poucos vai deixando de ser. “Ou ela muda ou não vai se dar bem no tatame”, conclui.  

A luta trabalha muito com a disciplina. Com você ser responsável por você mesmo. Edna conta ainda que são objetivos da prática pensar eticamente, começar a ver o outro como uma continuação de você mesmo e controle de agressividade. Não é permitido brigar na rua, por exemplo. Além disso, diante dos perigos urbanos existentes na cidade, um homem ou mulher que treina jiu-jitsu estará capacitado não só para se defender, como também para estar atento ao redor e prevenir um possível ataque. Sendo assim, é uma ferramenta de defesa muito importante sobretudo para mulheres que são muito mais expostas às violências. 

Alunos do projeto e equipe
(Fonte: Arquivo pessoal)

Para participar existem regras: é preciso ter um kimono e uma faixa, inicialmente branca, unhas sempre curtas e kimono sempre limpo para não machucar ou contaminar, respectivamente, o parceiro de luta. As aulas têm horários para começar e não se pode comer no ambiente. A partir desta disciplina o aluno deverá aprender a respeitar a luta, o ambiente, os parceiros, o professor e, por fim,  a se respeitar também. As melhoras no comportamento dos alunos costumam refletir na sala de aula, sem contar que muitos alunos do projeto tornaram-se atletas oficiais do jiu-jitsu e participam das mais variadas competições.

Prática X Pandemia 

Presencialmente, as aulas começavam com uma preparação física, seguida da parte técnica e por fim, tem o “rola” que é a parte das lutas propriamente ditas. Com a pandemia, as aulas presenciais foram suspensas para respeitar as medidas de biossegurança contra a Covid-19. 

No entanto, com o início das aulas remotas, Edna conta que sua equipe como todo se viu tendo que enfrentar momentos muito difíceis em suas vidas pessoais. Todo mundo muito ansioso com a situação, muitas vezes tristes por ter pedido entes queridos e estressados com a quantidade grande de problemas para resolver. A partir desta constatação, os membros do projeto resolveram retomar as aulas de maneira remota. 

Treino de Jiu-Jitsu de forma remota
(Fonte: Arquivo pessoal)

As primeiras aulas remotas do projeto serviram para contar um pouco sobre a história do jiu-jitsu e suas regras, criando assim uma base teórica sobre o assunto. As aulas, agora essencialmente de preparação física, passaram a acontecer às segundas-feiras das 6h às 8h, são gravadas e posteriormente disponibilizadas num grupo de whatsapp que o projeto mantém. Quem não puder acompanhar na hora assiste depois e a ideia é que o aluno assista o vídeo e tente repetir os exercícios da sua casa, improvisando com cadeiras, bancos e outros objetos que possam servir para execução das técnicas. 

Antes da pandemia, existiam planos de realizar um campeonato interno e outro misto, onde haveria a possibilidade de participação de pessoas de fora da UFRN. Os planos estão parados por enquanto e aguardam tempos melhores para serem executados com total segurança. Os treinos presenciais também ainda não têm previsão para voltar. Edna conta que por ser um esporte de alto contato, onde os atletas estão em constante exposição a suor, respiração, e não é viável o uso de máscara, ainda não é seguro o retorno.

Sobre a maior falta para as aulas que a pandemia trouxe, a professora destaca o fato de não ser possível a realização da etapa do treino chamada de “rola”. Essa parte do treino dura em média cinco minutos, dependendo da faixa, e constitui a luta em si. De casa e individualmente, os alunos não conseguem executá-la. 

Alunos do projeto participando de campeonato, com direito a medalha de ouro.
(Foto: Arquivo pessoal)

Como participar 

Presencialmente, quando surgia o interesse, os alunos costumavam ir até o ginásio da UFRN para se inscrever diretamente com os professores. De forma remota, as interações estão acontecendo via whatsapp por um grupo criado exclusivamente para o andamento das aulas do projeto. Lembrando que o projeto contempla não só alunos, professores e funcionários da UFRN, mas também pessoas da comunidade. 

Através da página do projeto no Sigaa, é possível tanto saber mais sobre a ação de extensão quanto se inscrever diretamente. Se você se interessou pela incrível “Arte suave” que é o jiu-jitsu, não perca tempo e venha se integrar a essa verdadeira família que está sempre em constante busca para evolução física e mental de seus integrantes.