Multiprova, relembre a trajetória da plataforma de automatização de avaliações da UFRN

Após um ano de lançamento da versão mais atualizada, utilizada no ensino remoto, recebeu melhorias e promete expandir ainda mais suas funções e alcance.
Escrito por: Líria Paz e Camila Pinto | Publicado em: 17 de junho de 2021

A ferramenta de gerenciamento de avaliações usada por diversos departamentos da Universidade completa, hoje, um ano do lançamento de sua versão atual. Com seu início em 2011, trouxe a ideia de automatizar avaliações para turmas grandes na realidade da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT). O Multiprova, que até a segunda versão era utilizado para provas em papel, traz muito mais praticidade na hora de aplicar, monitorar e corrigir provas, agora de forma online

Sua equipe é composta pelos professores André Bessa (ECT), Diego Silva (ECT), Gustavo Leitão (IMD) e Rex Medeiros (ECT), além de contar, também, com oito programadores e um especialista em experiência de usuário. A partir de 2018, com financiamento da ECT, foi possível aumentá-la para o começo de uma versão totalmente nova.

A primeira versão conta como um aprendizado, já a segunda executou mais de 120 mil provas entre 2014 e 2020. A terceira atualização – que teve seu lançamento adiantado para  atender as necessidades do ensino remoto – foi posta em produção para uso somente na UFRN. Nesse um ano de atuação, mais de 190 mil provas foram respondidas. 

André Bessa conta como foi a experiência de desenvolver este projeto, “Foram muitos os desafios. Tínhamos uma equipe de desenvolvimento e, de repente, precisamos acumular também a parte de infraestrutura, comunicação e suporte. Tudo foi feito simultaneamente. Considero o oferecimento de uma plataforma como o Multiprova como um grande feito.”, disse. 

Dentro da UFRN, a ferramenta obteve um crescimento expressivo em menos de um ano. Segundo dados fornecidos pela própria equipe, até setembro de 2020, apenas 223 professores fizeram login no Multiprova; em dezembro, 1.102 e, agora, são 1.640. Vale lembrar que, de acordo com dados do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos – SIGRH, a UFRN dispõe de 2.589 docentes.  

Dados detalhados sobre o uso da ferramenta na UFRN (Imagem: Equipe Multiprova)

Novas funcionalidades 

Depois de um ano sendo utilizado no ensino remoto da UFRN, algumas novas funcionalidades foram acrescentadas à plataforma. Agora é possível realizar reabertura de prova, correção no gabarito, anulação de questões, validação de envio das respostas, histórico de respostas, compartilhamento e anonimização da prova. Uma reformulação completa da interface está sendo feita com o objetivo de melhorar a experiência do usuário, em especial, dos estudantes.  

Essas implementações têm sido feitas com base no feedback dado por professores e discentes. André menciona a importância de ouvir o que os usuários têm a dizer sobre a plataforma, o que falta e o que pode ser melhorado. Principalmente da parte dos estudantes, que correspondem a 95% do público do Multiprova. 

Nesse sentido, os próprios bolsistas que integram a equipe de desenvolvimento têm sido muito importantes nessa comunicação entre usuários e desenvolvedores. É o caso de Antony Lemos, estudante de Tecnologia da Informação, que participa da equipe principal desde outubro e também utiliza a plataforma em suas aulas. Ele conta que a visão diferenciada como desenvolvedor e estudante tem ajudado muito, principalmente durante o ensino remoto. “Não é só um trabalho de alunos e eles coordenando por cima. Na verdade, é um trabalho como um todo”, disse. Ele destacou a praticidade e a ótima performance do Multiprova. 

Interface simples permite que os  professores gerenciem questões com praticidade e rapidez. (Imagem: Equipe Multiprova)

Projetos parceiros  

Além disso, a plataforma já se expandiu para além dos muros da UFRN. Professores de instituições como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal da Paraíba (UFPA) e o Departamento de Estatística – UFF a têm utilizado em suas atividades de ensino. No caso do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), essa experiência está mais próxima de uma parceria institucional. Recentemente, o projeto também firmou um convênio com a Justiça Federal do Rio Grande do Norte.  

Uma grande parceira é a Comperve, que proporcionou à equipe do Multiprova a experiência de desenvolver o PICCO (Plataforma Integrada de Concursos da Comperve). Esta é uma ferramenta de gerenciamento e organização da criação de provas para concursos, que serve para digitalizar o fluxo atual envolvendo professores elaboradores, revisores de conteúdo, revisores pedagógicos, editores e diretores. Uma alternativa eficiente para evitar fraudes. 

Outro parceiro é a Escola Multicampi de Ciências Médicas da UFRN. Segundo Diego Silva, professor da ECT e vice-coordenador, um dos desafios é trazer a avaliação OSCE (Exame Clínico Objetivo Estruturado) para o Multiprova, de forma que essa avaliação seja mais prática para todos os envolvidos. “Isso trará vantagens pois a digitalização da metodologia OSCE simplificará sua operação e ampliará suas possibilidades, permitindo que ela seja utilizada com mais frequência nas disciplinas da área da saúde, seja no contexto presencial, seja no contexto remoto.”, explicou.  

Gráfico ilustra o crescimento, em porcentagem, na quantidade de professores que aplicaram provas com o Multiprova, de acordo com dados dos meses de dezembro e junho (Imagem: Ascom ECT)

Outras possibilidades 

Além de criar um sistema robusto que seja ideal para a aplicação de avaliações, a ferramenta permite outras possibilidades como traçar o perfil educacional dos estudantes da UFRN e a geração de dados educacionais – o que facilita a implementação de metodologias de ensino personalizadas. Essas funcionalidades podem ser essenciais para a realização de pesquisas educacionais e utilizadas como um forte medidor da qualidade do ensino, de modo a serem aplicadas em outras instituições. 

“Terá sido uma pequena contribuição da nossa equipe para o processo de ensino-aprendizagem no que diz respeito à digitalização de processos tradicionais de avaliação”, explicou André Bessa. Segundo ele, esta pode ser uma ferramenta de forte contribuição para o avanço do sistema de ensino-aprendizagem local. “Como professor de Física, sei que minha principal contribuição será nesse outro front, mais abstrato, da orientação do aprendizado.”, concluiu.  

Expansão e novos planos  

Em fase de expansão, não apenas para outras instituições de ensino superior, mas também para escolas de níveis mais básicos de ensino, o projeto tem buscado estabelecer novas parcerias que garantam que a ferramenta continue evoluindo. Uma das parcerias já garantidas é com a SEDIS, que proporciona a integração do Multiprova com a plataforma Mandacaru (Moodle acadêmico da UFRN). Há outras instituições interessadas fazendo testes, mas que ainda não estão oficializadas. 

Um dos próximos passos nessa expansão é a disponibilização da ferramenta para outras escolas do estado, de modo que possa contribuir com melhorias no ensino público. “Para dar o devido retorno à sociedade, é preciso fazer o Multiprova chegar a outras universidades públicas e escolas. Estamos preparados em termos de código para essa expansão”, diz André, lembrando que todos os investimentos na plataforma até o momento têm sido feitos por entidades públicas como a própria UFRN e a CAPES.  

Diego Silva fala sobre como isso poderia ajudar a direcionar novas políticas públicas de educação. “Se você identifica que uma região do Rio Grande do Norte é mais carente, as notas são menores e você consegue traçar o desempenho dos alunos por assunto e identificar deficiências pontuais, então você tem subsídios para definir uma ação corretiva para atacar o problema”, diz o professor. Dessa forma, o compartilhamento de questões entre professores lotados em diferentes regiões do estado permitiria a difusão de boas experiências de gestão e avaliação. Há ainda a possibilidade de utilizar o Multiprova na aplicação de exames regionais ou simulados, que possam ser feitos antes de provas como, por exemplo, o Enem.

Entre outros planos no radar de atualizações do projeto, está a implementação de metodologias de ensino advindas de pesquisas em educação e de teorias que tenham foco nos processos de avaliação. Um exemplo disso é a própria digitalização do método OSCE, utilizado em turmas de medicina, citada anteriormente. É possível esperar também a inserção dos monitores na ferramenta, para que eles possam auxiliar na elaboração de questões e correção das provas.  

“Passado um ano, temos um Multiprova muito mais robusto para atender as demandas da comunidade acadêmica”, explicou André sobre a capacidade do sistema de realizar as exigências da universidade. “Eu espero que o Multiprova atinja sua maturidade nos próximos anos, com a retomada das versões de provas em papel, os aperfeiçoamentos necessários, os novos tipos de prova e tudo mais”, concluiu.